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Hoje o mitológico Festival de Woodstock completa 50 anos. E embora não estejam diretamente relacionados, o cinema volta àquele ano de 1969 através de Era uma Vez em… Hollywood (2019), novo filme de Quentin Tarantino (o 9º, pelas contas do diretor), que estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas da Paraíba. Assista ao trailer abaixo.

Aquele louco final de anos 1960 é retratado através da história de um ator de TV e seu amigo dublê que perseguem a fama e o sucesso no mundo do cinema. E acabam encontrando Charles Manson e seu grupo de assassinos fanáticos.

Esse não foi mesmo um ano como outros. Woodstock é, desde então, um pilar para o comportamento jovem e o rock, se tornou muito maior do que seus organizadores imaginaram. No palco, astros como Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who e Joe Cocker mandavam sons e imagens marcantes; na plateia, jovens passeavam na lama, às vezes nus, muitas vezes chapados, numa atmosfera de paz & amor e contracultura. Tudo eternizado pelas lentes do clássico documentário Woodstock, lançado em 1970.

Mas 1969 marcou virtualmente o fim dos Beatles. Eles se apresentaram juntos pela última vez no telhado da Apple em janeiro e gravaram seu último disco também naquele ano, o Abbey Road. O disco Let it Be foi lançado em 1970, mas as gravações tinham acontecido antes até do Abbey Road. O ano também teve, em março, a lua de mel/ protesto pela paz de John Lennon e Yoko Ono, o Bed-in, em que recebiam jornalistas e convidados na cama.

O cinema também abraçou a contracultura em Sem Destino e teve em Perdidos na Noite o primeiro filme proibido para menores a ganhar o Oscar de melhor filme. E também sentiu a morte de Judy Garland, um ícone dos musicais, que se foi aos 47, após uma vida de dependência de álcool e remédios. Mesmo ano e mesma idade da morte de Jack Kerouac, autor beatnik de On the Road, guru de uma geração.

A literatura viu surgir o best seller O Chefão, de Mario Puzo, que chegaria ao cinema como O Poderoso Chefão em 1972. E a TV britânica viu a estreia de Monty Python’s Flying Circus, série que reuniu o grupo que faria história na comédia.

No Brasil, a ditadura tinha entrado em seu período mais brutal, após o AI-5, decretado em dezembro de 1968. Mas o ano surgiu uma das grandes vozes contra a dita cuja: o semanário O Pasquim. Mas a cultura viu Grande Otelo, Dina Sfat e Paulo José no iconoclasta Macunaíma, filme de Joaquim Pedro de Andrade.

Voltando a Hollywood, 1969 foi o palco de um dos crimes mais chocantes do mundo do cinema: o assassinato de Sharon Tate. A atriz, belíssima e ascensão na época, era casada com o cineasta Roman Polanski e estava grávida de sete meses quando sua casa foi invadida pelo seguidores de Charles Manson e foi morta a facadas, junto com seus convidados naquela noite.

Tarantino, que já não teve pudores em contar a seu modo uma história da II Guerra sem qualquer compromisso com a realidade (ou melhor: criando sua própria realidade) em Bastardos Inglórios (2009), agora mexe nesse tema delicadíssimo: coloca Sharon Tate como uma das personagens centrais de sua revisita à Hollywood de 1969.

A atriz é interpretada por Margot Robbie, que chega a usar jóias que pertenceram realmente a Sharon Tate. Tate era, então, uma atriz em franca ascensão, tendo aparecido em filmes como A Dança dos Vampiros (1967), do marido Polanski, e Arma Secreta contra Matt Helm (1968).

No filme, Sharon e Polanski são vizinhos de Rick Dalton, vivido por Leonardo DiCaprio: um ator de faroestes da TV que busca o sucesso do cinema, com a ajuda de seu amigo, o dublê Cliff Booth (Brad Pitt). O mundo de 1969 é também coadjuvante, com cenas em shows meio bregas na televisão e personagens reais cruzando o caminho dos fictícios, como Bruce Lee. Interpretado por Mike Moh, o mestre das artes marciais ainda não havia se tornado um astro de cinema (o que aconteceria dois anos depois em Hong Kong). Ele havia saído da série O Besouro Verde e ainda buscava afirmação.

O filme estreou no Festival de Cannes, em maio, e foi aclamado com uma ovação de sete minutos. Também tem sido apontado como um filme mais sentimental que o costumeiro por parte do diretor. No entanto, o reprocessamento de linguagens anteriores do cinema continua um elemento sempre presente nos seus filmes.

O elenco de Era uma Vez…. em Hollywood ainda traz Emile Hirsch, Al Pacino, Timothy Olyphant, Dakota Fanning, Kurt Russell e Bruce Dern. De DiCaprio e Pitt, Tarantino já afirmou ser a dupla em tela mais excitante desde Paul Newman e Robert Redford em Butch Cassidy. Um filme, aliás, de 1969.

Texto de Renato Félix, do Jornal Correio

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