Brasil

Levantamento aponta que pessoas temem assaltos e furtos, além de violência contra mulheres no trajeto e arredores de espaços culturais.

Mais de 30% dos brasileiros não consomem atividades culturais presencialmente devido a questões financeiras e à insegurança. Os dados pertencem à sexta edição da pesquisa Hábitos Culturais, realizada pelo Observatório Fundação Itaú com apoio técnico do Datafolha, divulgada nesta terça-feira (11).

Mais de 30% dos brasileiros não consomem atividades culturais presencialmente devido a questões financeiras e à insegurança. Os dados pertencem à sexta edição da pesquisa Hábitos Culturais, realizada pelo Observatório Fundação Itaú com apoio técnico do Datafolha, divulgada nesta terça-feira (11).

A falta de dinheiro para ter acesso aos equipamentos culturais é apontada por 34% dos entrevistados; por sua vez, 31% cita insegurança e violência como motivo para evitar eventos presenciais.

Dessa parcela, 47% dizem temer assaltos e furtos, e 21% mencionam violência contra mulheres nos espaços culturais ou arredores – porcentagem que sobe para 28% quando são elas que respondem à pergunta.

O levantamento vai além. A questão econômica, por exemplo, é mais sensível para mulheres (36%) do que para homens (33%). Já o custo que mais afeta o acesso é o preço dos ingressos, segundo 22% dos entrevistados, seguido pelo desembolso com transporte, apontado por 19%.

Gerente do Observatório da Fundação Itaú, Carla Christine Chiamareli contextualiza ambos os pontos, financeiro e de segurança. Segundo ela – chancelada pela pesquisa – o maior percentual de equipamentos e atividades culturais está nas capitais, sobretudo nas áreas centrais delas, o que promove um deslocamento de pessoas para esses espaços e, assim, a depender da localidade de onde partem, o enfrentamento de possíveis realidades de violência.

Os resultados da pesquisa inferem, então, uma reflexão sobre um conjunto de fatores, mas sobretudo a respeito da necessidade de um maior investimento de equipamentos culturais nas comunidades distantes do Centro, a fim de oportunizar um acesso mais democrático”, analisa.

Não à toa, a descentralização da prática e da oferta cultural em todo o território brasileiro – compreendendo municípios, Estados e regiões – é uma das bandeiras mencionadas por ela, bem como uma conclusão interessante: somos, sim, um país que consome cultura, e ainda é possível ir muito além.

As pessoas já consomem muita cultura, mas há um potencial de crescimento. Elas veem valor nas atividades culturais, mas existem possibilidades. Se democratizar o acesso, se houver mais equipamentos e ações gratuitas, o número vai crescer. Há muitas evidências em toda a pesquisa para a necessidade do investimento de mais atividades gratuitas para todos”.

Brancos têm mais acesso à cultura que negros

Outras variáveis do levantamento dizem respeito, por exemplo, a recortes de raça, renda e escolaridade. Para se ter ideia, brancos tiveram mais acesso que negros ao cinema, teatro e museus nos últimos 12 meses.

Por sua vez, a participação em atividades culturais é maior entre escolarizados. 93% da classe A/B participou de atividades culturais nos últimos 12 meses, face a 71% das classes D e E.

Se o interesse for pelo conhecimento de quais atividades lideraram o consumo cultural presencial nos últimos 12 meses, a pesquisa também traz dados importantes. Eventos ao ar livre dominam (61%), seguidos de shows de música (45%), festas folclóricas, populares e típicas (42%), cinema (37%) e atividades infantis (35%).

Os principais motivos apontados para a realização de atividades presenciais foram relaxar, diminuir o estresse (44%), conhecer novos lugares (40%), adquirir conhecimento (34%), novas experiências (34%) e melhorar a saúde (32%) – sendo este último o motivo que mais cresceu em relação ao ano passado, subindo sete pontos percentuais.

Desigualdades persistem no consumo de cultura

Embora apresente relativo aumento no acesso a atividades culturais em todas as classes, a série histórica da pesquisa aponta para a manutenção de desigualdades.

No acesso ao cinema, a diferença de cerca de 40% entre o acesso das classes A/B e D/E se mantém entre 2022 e 2025. Já entre aqueles que visitam museus, a diferença é de 20%, e fica estável na mesma série histórica.

No consumo de espetáculos de teatro, a diferença entre as classes chega a aumentar de 17 pontos em 2022 para 28 pontos percentuais em 2025.A pesquisa ainda focou nas atividades que lideraram o consumo cultural em casa ou online nos últimos 12 meses. Em ordem, estão ouvir música online (85%), assistir a filmes em plataformas de streaming (74%), assistir a séries online (70%), ouvir podcast (54%), e empatados em quinto lugar, assistir a novelas e ler livros impressos, com 53%.

A modalidade em casa ou online é mais realizada entre residentes nas regiões metropolitanas e entre pessoas que se autodeclaram brancas, à medida que aumenta a escolaridade e a classe econômica.

A sexta edição da pesquisa Hábitos Culturais ouviu 2.432 indivíduos, de 16 e 65 anos em todo o país, entre 11 e 26 de agosto. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.

O objetivo é mapear aspectos do consumo de cultura no ambiente digital, os hábitos e expectativas nos espaços culturais presenciais e as motivações para sair de casa e consumir cultura presencialmente.

Diário do Nordeste

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