“Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, terceiro filme da franquia “Harry Potter” relançado nos cinemas somente nesta terça, 4, é o capítulo mais importante na saga baseada nos best-sellers de J.K. Rowling. Não somente foi o longa responsável por injetar um tom mais sombrio à trama geral, o qual iria perdurar até seu derradeiro fim, como também introduziu alguns dos personagens e elementos mais amados pelos fãs, como Sirius Black, o hipogrifo Bicuço, e o Vira-Tempo, utilizado pelos personagens em um dos momentos mais cruciais do enredo.
No terceiro longa, Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) retornam a Hogwarts, que fica em estado de alerta, já que o letal Sirius Black (Gary Oldman) fugiu de Azkaban. Uma prisão de segurança máxima do Mundo Bruxo, Azkaban é guardada por dementadores, seres que se alimentam de memórias felizes. Com rumores correndo de que Black estava diretamente envolvido no assassinato dos pais de Harry, o jovem bruxo conta com a ajuda de um misterioso novo professor, Remo Lupin (David Thewlis), para se defender contra as ameaças que lhe rodeiam.
Além das mudanças no tom da narrativa, “Prisioneiro de Azkaban” também foi notável pelas transformações que fez à franquia por trás das câmeras. Substituindo Chris Columbus, o mexicano Alfonso Cuarón (‘Gravidade’) foi o responsável pela direção. Além disso, Michael Gambon assumiu o papel do diretor Alvo Dumbledore após o intérprete original, Richard Harris, falecer em 2002 devido ao câncer. No quesito visual, Cuarón apostou no realismo, investindo em figurinos e cenários mais naturais, que se encaixam no tom mais maduro do longa.
Para muitos, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” é o melhor filme da saga, com os veículos RadioTimes, Time, Paste, Time Out, Entertainment Weekly e Collider o colocando em primeiro lugar, em comparação com os outros 7 capítulos e os derivados de “Animais Fantásticos”. A razão do porquê é relembrada por muitos: a mudança sombria do tom, que entra em contraste direto com a atmosfera mais infantil dos dois primeiros filmes, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” e “Harry Potter e a Câmara Secreta”. Também é aqui que descobrimos aspectos-chave da trama geral que seriam aprofundados em longas posteriores, em especial o passado dos pais de Harry, e como personagens como Sirius Black, Remo Lupin e Severo Snape são conectados de forma intrínseca ao protagonista.
Inicialmente, fiquei confuso, porque dirigir ‘Harry Potter’ não estava nos meus planos - Afonso Cuarón, cineasta
Amadurecimento
O tom mais sombrio de “Prisioneiro de Azkaban” acaba por reforçar o propósito de “Harry Potter” de ser uma história que acompanhe o crescimento físico e emocional de seus personagens. Isso é claramente refletido no visual dos protagonistas, com mudanças físicas visíveis em Rupert Grint (Rony), Tom Felton (Draco Malfoy) e Matthew Lewis (Neville Longbottom). Além disso, Daniel Radcliffe, intérprete de Harry, tem aqui a sua melhor performance na franquia, misturando o fascínio inicial que ele tem com a magia de Hogwarts com a raiva por não ser amado e compreendido pelos tios e pelo aparente envolvimento de Sirius Black com a morte de seus pais.
A abordagem na direção também fez a diferença nesta mudança de tom. Em entrevista ao Total Film, o produtor David Heyman compara as interações de Chris Columbus e Alfonso Cuarón com os jovens protagonistas.
Chris [Columbus] os ajudava com a entonação e o entusiasmo; já Alfonso os tratava como jovens adultos, perguntando como eles estavam se sentindo”, diz.
Essa preocupação com os sentimentos dos atores também é notável em um longa anterior do cineasta mexicano: “A Princesinha”, de 1995, onde uma garota usa a imaginação para lidar com a dura realidade ao seu redor, após seu pai ser enviado para lutar na Primeira Guerra Mundial.
De fato, Cuarón era concentrado nos seus personagens de tal maneira que ofereceu uma espécie de “dever de casa” para o seu trio de protagonistas: escrever uma redação sobre as motivações de Harry, Rony e Hermione na trama. O resultado, de acordo com David Heyman, foi bem condizente com as personalidades criadas por J.K. Rowling nos livros.
Dan [Radcliffe, intérprete de Harry] escreveu uma página, Emma [Watson, intérprete de Hermione] escreveu dez ou doze páginas, e Rupert [Grint, intérprete de Rony] não entregou nada. Foi perfeito”, relatou.
Uma curiosidade interessante é que Alfonso Cuarón quase não aceitou a direção de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, por não ter familiaridade com os livros ou os filmes anteriores. Porém, um amigo próximo não só o chamou de “idiota arrogante” pela sua hesitação, como também o motivou a ler os romances de Rowling, resultando em um envolvimento mais íntimo do diretor com o seu material fonte. Este amigo próximo é ninguém menos que Guillermo del Toro, cineasta mexicano que, em 2006, entregaria a sua própria obra-prima de fantasia com “O Labirinto do Fauno”.
Em entrevista à Total Film, Cuarón relata o diálogo hilário que teve com del Toro.
Inicialmente, fiquei confuso, porque dirigir ‘Harry Potter’ não estava nos meus planos. Eu conversava frequentemente com Guillermo e, alguns dias depois, eu disse: ‘Me ofereceram a direção desse novo filme de Harry Potter, mas é muito estranho que eles tenham pensado em mim para fazer isso.’ Ele disse: ‘Calma aí, amigão, você nunca leu Harry Potter?’ E eu respondi: ‘Não acho que seja para mim.’ E então ele me disse em espanhol: ‘Você é um idiota arrogante se não aceitar.’”, conta.
Agora, 20 anos depois, os fãs expressam a gratidão imensa por Cuarón ter aceito o desafio, com o relançamento do filme registrando a maior pré-venda de ingressos nos cinemas brasileiros em 2024 até o presente momento.
O Prisioneiro de Azkaban
Alfonso Cuarón, diretor
Daniel Radcliffe, ator
Rupert Grint, ator
Emma Watson, atriz
Duração de 2h 21min
Diário da Manhã