Há exatos 80 anos nascia Francisco Buarque de Hollanda, um dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda com a pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Cantor e compositor, dramaturgo, autor, ator e vencedor do Prêmio Camões, Chico Buarque é também cronista das belezas e das mazelas do Brasil, autor de canções que se tornaram hinos do combate à ditadura militar e da alegria pelo retorno à democracia, entusiasta do futebol-arte e o compositor favorito das cantoras por sua rara compreensão do universo feminino.
NASCE UM COMPOSITOR
O ano era 1966 e, na contracapa de seu LP de estreia, “Chico Buarque de Hollanda ”, o cantor e compositor de 22 anos de idade admitia: “Pouco tenho a dizer além do que vai nesses sambas”. Ensanduichado entre a explosão da jovem guarda e a revolução tropicalista, Chico assinava seu compromisso com a música inaugurada no começo do século pelos negros Donga, Pixinguinha e João da Baiana.
No LP, que vinha com clássicos como “A banda” (vencedora de festival, na interpretação de Nara Leão), Chico era a encarnação do samba jovem, o garoto dos olhos magnéticos, de cor nunca identificada. Mais do que isso, o autor de versos como “se o samba quer que eu prossiga/ eu não contrario não” (de “Amanhã, ninguém sabe”), reiterados por ele em “Que tal um samba?” (2022), faixa mais recente desse artista que completa 80 anos na quarta-feira, 19 de junho.
Entre um Chico e outro, está toda a História de um país, da qual é um dos mais poéticos e contundentes cronistas. Criado no seio da intelectualidade (seu pai era o historiador, sociólogo e escritor Sérgio Buarque de Hollanda, autor de “Raízes do Brasil”), o menino cresceu ligado em futebol, em clássicos da literatura e no melhor de uma época de ouro da música brasileira (Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso, entre outros). A audição do marco inicial da bossa nova, “Chega de saudade”, com João Gilberto, fez com que o violão virasse seu melhor amigo.
TRILHA SONORA DO BRASIL
Num tempo em que tudo parecia ser possível, um talentoso contingente jovem batalhava para reorientar a canção brasileira. Enquanto os tropicalistas trilhavam o caminho do pop e da eletricidade, ele seguiu seus próprios desígnios, traçados pelo samba — certa vez, Caetano Veloso chegou a dizer que Chico “anda para a frente arrastando a tradição”.
Um caminho que ele percorreria com grandes parceiros musicais, como Edu Lobo, Francis Hime, Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco e, nos últimos anos, o neto Chico Brown. Entre canções de qualidade cinematográfica e pérolas românticas (com um olhar feminino que o transformou no compositor mais desejado pelas grandes cantoras, de Maria Bethânia a Elza Soares), Chico conquistou popularidade e fez a trilha sonora do Brasil.
Globo.com