
A construção do foguete e da espaçonave que devem levar a China à Lua até 2030 está ocorrendo conforme o planejado, segundo o vice-chefe de design do Programa Chinês de Engenharia Espacial Tripulada, Yang Liwei, 60. A missão, de acordo com ele, contará com três astronautas, cujos nomes ainda estão em processo de escolha.
Primeiro astronauta chinês a ir ao espaço, Liwei esteve no Brasil nesta semana para o 36º Encontro Internacional de Astronautas. O evento, realizado entre os dias 3 a 7 de novembro pela Associação Internacional de Astronautas, reuniu profissionais de diferentes países pela primeira vez em solo brasileiro.

Em conversa com a reportagem, Liwei afirmou que a tendência é que as missões espaciais se tornem cada vez mais distantes da Terra, o que envolve chegar à Lua. Para o programa de missão tripulada até o satélite natural, a China pretende usar a espaçonave Mengzhou e o foguete Long March 10.
Estamos confiantes de que iremos completar os objetivos de engenharia como o planejado”, disse ele. A ideia é que 2 dos 3 tripulantes da missão pisem na Lua. O processo de seleção desses astronautas ainda está em curso, acrescentou Liwei.

De acordo com ele, a China escolheu a Lua como próximo alvo para exploração do espaço por ser o corpo celeste mais próximo da Terra.
Do ponto de vista técnico, pousar na Lua é relativamente fácil e também lança fundações para uma exploração espacial mais profunda.”
A nação asiática já chegou à Lua, mas somente com sondas não tripuladas. Em 2024, ela se tornou a primeira a colher e trazer para a Terra amostras do lado afastado lunar, que nunca é visto do nosso planeta.

Liwei atribui o avanço do país ao desenvolvimento internacional da tecnologia espacial e ao apoio do governo chinês.
Por enquanto, os Estados Unidos são o único país a colocar humanos na superfície lunar. A última vez que isso ocorreu foi em 1972, como parte do programa Apollo.
Os americanos pretendem repetir o feito na missão Artemis 3, prevista para maio de 2027. Esse retorno, porém, tem sofrido atrasos. Recentemente, a Nasa disse que procuraria alternativas à SpaceX, de Elon Musk, para fazer seu pouso tripulado.

O progresso chinês tem preocupado os EUA, como admitiu o ex-administrador da Nasa Bill Nelson. Em 2023, ele afirmou que o grande rival do país na corrida espacial é a China e que o programa espacial deles é “basicamente militar”. Em outra ocasião, em 2022, declarou que é preocupante o pouso na Lua da China e que, uma vez no satélite, o país diria: “É nossa agora e você fica de fora”.
Para Liwei, porém, inexiste uma disputa.
Cada país vai adotar diferentes tecnologias, diferentes rotas e diferentes objetivos, eu não acho que há uma questão de competição.”

Segundo ele, o programa espacial tripulado chinês segue princípios de uso pacífico e de parcerias de ganho mútuo. Em abril deste ano, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China disse que o país assinou 200 acordos de cooperação espacial com cerca de 50 países e organizações internacionais.
O Brasil, por exemplo, conta com a parceria da China para desenvolvimento de satélites. Em junho deste ano, foi assinado o protocolo para desenvolvimento do CBERS-6 (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), que promete avanço em relação aos demais por ser capaz de realizar monitoramentos em quaisquer condições climáticas e de iluminação.
Mas Liwei disse que há espaço para fazer mais entre os dois países e cita como exemplo o Paquistão, com quem a China fechou um acordo que envolve a ida de um astronauta paquistanês para uma curta missão na estação espacial Tiangong, onde poderá conduzir experimentos.
Nós também esperamos que o Brasil tenha mais cooperações em aplicações de tecnologia espacial e troca de astronautas.”
A primeira vez no espaço
Liwei passou 21 horas no espaço em 2003 na missão Shenzhou-5, que marcou a chegada da China ao seleto grupo de países que realizaram voos tripulados ao espaço. Antes disso, apenas EUA e União Soviética haviam conquistado esse feito. Ele contou que, uma vez no espaço, se sentiu orgulhoso do seu país e teve uma sensação de grandeza da humanidade ao olhar a Terra de longe.
Ele também comparou as condições da exploração espacial da época em que foi ao espaço em uma “espaçonave Shenzhou relativamente apertada” com as de hoje.

Agora, nossos astronautas podem trabalhar na espaçosa estação espacial e com uma rica variedade de comidas, que inclui centenas de opções.”
Nesta semana, viralizou um vídeo em que astronautas das missões Shenzhou-20 e Shenzhou-21 prepararam asinhas de frango e bifes em uma espécie de forno na estação Tiangong.
Portal Correio